Desde pequena, mesmo antes de sequer saber o que siginificava a palavra religião, eu ouvia falar de
“católicos não praticantes”: em geral, indivíduos nascidos de pais católicos,
batizados na igreja católica, que iam a uma missa aqui e outra ali, quando
tinham de dizer sua religião se apresentavam como católicos… Mas que não faziam
a menor ideia do que dizia a Bíblia, não sabiam nada de história da Igreja, não
se comportavam segundo a ética cristã. Enfim, eram os “católicos nominais”.
Hoje infelizmente e sou obrigada admitir que essa lepra contaminou os
evangélicos. Sim, estamos cercados por todos os lados por evangélicos não praticantes,
um fenômeno relativamente novo. “Os bíblias são pessoas sérias”, dizia-me meu os
antigos, os nossos avós católicos não praticantes. Nos nossos dias eu temeria
repetir essas palavras, pois os evangélicos nominais estão se alastrando numa
velocidade crítica. E as redes sociais
estão esfregando isso na nossa cara de modo inequívoco.
A grande diferença entre o católico não praticante e o
evangélico não praticante está na frequência às reuniões religiosas semanais:
enquanto o católico não praticante vai vez por outra à missa, o evangélico não
praticante vai todo domingo à igreja. E as diferenças param por aí. Pois o
evangélico não praticante não lê a Bíblia. Simplesmente não lê! Passam-se sete
dias na semana, ele pode ter 3 ou 4 bíblias de estudo em casa mas não toca
nelas. E, como não lê, não sabe o que ela diz. Não a estuda. Se lê alguma
literatura cristã é de autores água com açúcar, e meia-dúzia de escritores
brasileiros da moda. E isso entre a leitura de “A Cabana” e “Crepúsculo”.
A fé do evangélico não praticante é por tabela: forma
suas crenças com base no que outros pregaram, cantaram, falaram. Por isso, fica
assustadíssimo quando dizemos que a frase “não cai uma folha da árvore se Deus
não deixar” não está nas Escrituras. Mas, curiosamente, acha que entende à beça
de Bíblia e entra em profundas discussões teológicas como um jogador de futebol
discutindo física quântica. Peita grandes teólogos e líderes religiosos com
mais de 30 anos de estrada como se fossem acéfalas peças de museu sem contato
com o mundo real. A verdade pertence ao
evangélico não praticante.
Esse é um verbo muito presente nos lábios de um
evangélico não praticante: “Achar”.
Você entra em uma argumentação com ele sobre um tema bíblico e a resposta
contém quase sempre esse verbo: “Ah, mas eu não acho que seja assim não”,
justifica-se, com sua teologia de corredor de igreja. E quando você embasa seus
argumentos em cinco ou seis passagens, ele desconversa e sai com um “Ah, mas eu
já ouvi o pastor fulano dizer dele que…” vira as costas e vai embora. Sempre
“achando”, claro. Não tem jeito: o evangélico não praticante é um analfabeto
bíblico: não se interessa por ler a Bíblia e monta sua forma de agir e de ser
em cima de um achismo cristão absoluto.
O evangélico não praticante tem opiniões próprias
sobre aquilo que Deus deixa claro nas Escrituras. Como não as conhece, tem
conhecimento sobre algumas informações soltas a respeito do Altíssimo e a
partir delas formula toda sua doutrina de fé.
O argumento predileto: Deus é amor! Então não me
venham dizer que Deus é contra o divórcio, o namoro em jugo desigual ou mesmo
falar uns palavrõezinhos, pois Ele ama todos e por isso não ia querer a
infelicidade de seus filhos nem fica cerceando nossa liberdade! É a graça! É o
amor! No achismo do evangélico não praticante Deus libera tudo pois… Ele é amor
e, afinal, vivemos na dispensação da graça! Quando
você explica a ele que havia graça no Antigo Testamento e Lei no Novo ele fica
revoltado e logo solta um “Ah, não acho isso não”.
Para o evangélico não praticante, ira de Deus, justiça
de Deus, ciúmes de Deus e a possibilidade do inferno são coisas muito
estranhas, pois… Deus é amor! Deus é graça! E como acha que Deus é uma espécie
de homem grandão com superpoderes, não consegue assimilar o conceito de um Deus
incompreensível e inalcançável à mente humana, de uma natureza tão diferente da
nossa, tão mais elevada, sublime e misteriosa, que não dá – como Romanos 9
deixa tão claro – para compreendê-lo tendo o homem e seus valores
como parâmetro.
O evangélico não praticante é tão limitado em seu
discernimento espiritual que não percebe que fazer eventos gigantescos não
avança a causa de Cristo. Que o Evangelho é pregado muito mais eficientemente
no boca a boca do que com um plim-plim no meio. “Afinal, temos que pregar a
tempo e fora de tempo!”, brada sem entender as verdadeiras razões que levaram
aqueles artistas gospel ao palco. Ele REALMENTE acredita que a nação toda se
converterá porque a cantora gospel da moda foi a um programa de TV da Globo ou
ao Raul Gil. “Ô glória, uhuuuuuuuuuuuu!!!! Hooooooooooo!!!”, brada exultante
com a cantora que faz o povo ímpio balançar as mãos do mesmo modo que um cantor
de pagode faria – e com dançarinas seminuas atrás.
O evangélico não praticante ora pouco. Ora sempre
antes das refeições porque, ora bolas, é o que um evangélico faz! Mas não tira
momentos para Deus. Não abre mão do seu programa de TV favorito para dedicar 15
minutos ao Pai. Para isso servem os cultos, não é? Se jejua não sabe explicar
muito bem por que devemos jejuar, mas afinal o pastor disse que era para jejuar
e os irmãos da igreja jejuam, então ele acha que jejuando fará parte da galera.
Mas não sabe explicar a mecânica ou a teologia por trás do jejum. O evangélico não
praticante acha que estudar teologia é besteira, o importante é amar! “Ah, eu
sou de Cristooooo!”, estufa o peito.
O evangélico não praticante um dia morrerá e não irá
para o Céu. E só de eu falar isso ele já se irou e pensou “quem é você para
julgar os outros???”. Pois o evangélico não praticante acha que qualquer coisa
que que contraria sua fé popular é “julgamento”. Mas eu digo isso por uma
simples e óbvia razão: o evangélico não praticante… não pratica o Evangelho.
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