Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no Evangelho que você crê,mas, sim, em si mesmo - AGOSTINHO.
Um
último traço pelo qual o Apóstolo caracteriza os falsos irmãos de Filipos é
este: Eles põem sua glória naquilo que é enganoso.
Ele
tira vaidade de seus próprios pecados; mais ainda: ele os chama de virtudes. Sua
hipocrisia ele chama de retidão; seu falso zelo, de fervor. Os sutis venenos de
Satanás, ele os reveste da etiqueta dos santos remédios de Cristo. O que ele
chama de vício nos outros, nele mesmo ele considera como qualidade.
Ele
cuida de realçar a menor fraqueza na conduta do outro; ninguém o ultrapassa em
habilidade; e enquanto ele acaricia à vontade seu pecado favorito, ele olha as
faltas de seus irmãos através de uma lente de aumento.
Quanto à sua própria
conduta, ela não diz respeito a ninguém. Ele pode pecar impunemente; e se seu
pastor, por acaso, lhe faz alguma observação, ele se indigna e o acusa de
calúnia. As observações, não mais que as advertências, jamais o atingem.
Quem
ousaria colocar em dúvida sua piedade? Oh! Meus irmãos, meus irmãos, não façam,
pura ilusão! Muitos pretensos membros de Igreja serão um dia membros do inferno.
Muitos homens admitidos em uma, ou outra, de nossas comunidades cristãs, que
receberam a água do batismo, que se aproximam de nossa mesa sagrada, que talvez,
mesmo, tenham a reputação de estarem vivos, não estão menos mortos, em relação
ao espiritual, que os cadáveres em seus sepulcros.
Hoje
em dia é fácil se fazer passar por um filho de Deus! No lugar da renúncia, do
amor por Cristo, da mortificação da carne, o pouco que se exige é aprender
alguns cânticos, aprender algumas banalidades piedosas, algumas frases
convencionadas, e vocês se imporão, mesmo aos eleitos. Filiem-se a uma Igreja
qualquer; mostrem uma conduta exterior, de tal sorte que lhes possam considerar
respeitável, e se vocês não conseguirem enganar os mais lúcidos, ao menos terão
uma reputação de piedade bem estabelecida para lhes permitir andar com o coração
aliviado e a consciência à vontade, no caminho da
perdição.
Eu
sei, meus amados, que eu digo coisas duras, mas são coisas verdadeiras; por isso
não posso calar. Meu sangue borbulha algumas vezes em minhas veias, quando
encontro homens cuja conduta me dá vergonha, ao lado de quem eu ousaria apenas
me sentar, e que, no entanto, me tratam, com convicção, de "Irmão". O quê? Eles
vivem no pecado, e chamam um cristão de irmão! Oro a Deus que lhes perdoe seu
desvio de conduta; mas eu declaro - eu não posso de jeito algum me
confraternizar com eles, e nem quero, até que se conduzam de uma maneira digna
de sua vocação.
Certamente,
todo o homem que faz de seu ventre um Deus e que põe sua glória naquilo que é
enganoso, é completamente culpado; mas quando esse homem se veste com a roupa da
religião, quando conhece a verdade, a qual ele ensina como necessária, faz
abertamente profissão de ser um servo de Cristo, quanto mais culpado é ele!
Vocês conseguem conceber, meus irmãos, um crime mais atroz que aquele do
hipócrita audacioso que, mentindo a Deus e à sua consciência, declara
solenemente que pertence ao Senhor e que o Senhor lhe pertence, depois vai viver
como vive o mundo, anda seguindo o curso do presente século, comete as mesmas
injustiças, persegue os mesmos objetivos, usa dos mesmos meios que aqueles que
não são chamados pelo nome de Cristo?
Ah! Se houvesse nesta assembléia alguém que devesse confessar que este é o seu pecado; que chore, sim, que chore lágrimas de sangue, porque a enormidade de seu crime é maior do que poderíamos dizer!
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