As duas letras unidas que formam o título deste texto dizem respeito ao maior
homicida da espiritualidade que habita em cada um de nós. O “eu” de mim mesmo é
quem sempre me impediu de compreender a ironia do Evangelho, ou seja, o discurso
de que devo viver em favor dos outros, conforme a mente alheia, me importando,
sobretudo, com as convicções dos “eus” que estão fora de mim.
“Testemunho” é uma palavra banalizada. Não se
trata apenas de compartilhamento de experiências espirituais. Testemunho, na
verdade, é um sacrifício do cristão quando pode agir de forma lícita em alguma
ocasião, mas não procede, pela consciência de que sua ação pode se tornar um
escândalo aos olhos de quem a presenciar. Não foi por outro motivo que Paulo,
artesão de vidas e tendas, disse: “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”
[1Co 10.23].
Jesus veio e substituiu o “pode” e o “não pode”
pelo “depende”. Ele não trouxe uma nova lei fria, e sim concedeu a todos os
cristãos algo que os judeus nunca desfrutaram: o direito de avaliação racional e
espiritual para definir o próprio comportamento em situações simples ou
complexas. Por isso, toda ação pública de um cristão precisa ser balanceada
junto a conceitos culturais, sociais, morais e religiosos de um determinado
lugar, durante determinado tempo.
Essa é a ética do Reino: julgar todas as coisas,
reter o que é bom e privar o outro de confusão ideológica.A maior prova do amor
ao próximo consiste nesta abstinência. Deixar de ingerir álcool, de fazer
tatuagem, de ir a algumas festas, de usar certas roupas, de ouvir determinadas
músicas, são atitudes maduras de alguém que avalia o seu contexto e o texto
sagrado. Porém, infelizmente, ainda existe uma enorme quantidade de cristãos
contaminados pelo que chamamos de “lairribeirismo”, que diz: “o que as pessoas
pensam sobre você não é problema seu, é problema delas” (Lair Ribeiro).
O individualismo prático consolida o egoísmo e
nos torna participantes de direitos que não existem, como o de viver sem se
importar e o de se importar sem se abster. Você deve prestar contas a quem tem a
mente fraca. Você deve acolher o legalista e o liberal com sabedoria, sem
culpá-los pelo extremismo. Já dizia o velho Batman, o zelote de Gotham: “Não é
quem eu sou por dentro, mas sim o que eu faço, é que me define.”
Definitivamente, você é o que as pessoas dizem por aí.
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