Li recentemente em um blog um texto
em que o autor falava algo sobre “ser autêntico”. O irmão estava revoltado com
uma discussão que teve com alguém e, por isso, escreveu o seguinte: “Ser
‘sincero’, ‘autêntico’ ou ‘você mesmo’ não é desculpa para ser uma pessoa
nojenta, desagradável ou idiota. Pare de se orgulhar de ser um completo
@$&#% e vê se aprende a viver em sociedade” (o @$&#% é por
minha conta, o comentário trazia o palavrão explicitamente). Não concordo com a
escolha de vocábulos que ele adotou, pois antipatizo com o uso de palavrões
(se para toda palavra torpe há um sinônimo menos agressivo, por que usar?). Mas
estou de acordo com o conteúdo do que ele disse.
Anos atrás eu acreditava que tinha
de ser autêntico, de falar o que viesse à cabeça, custasse o que custasse. Mas
percebi que, se vivermos sob o pretexto de que “eu sou assim mesmo” e “esse é o
meu jeito”, vamos andar na contramão do Evangelho. Por quê? Pois
a verdade é que não interessa como você é. Interessa como Cristo é.
E se “não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20), o verdadeiro
cristão não pode usar a desculpa de que “eu sou assim” e machucar outras
pessoas. Pois Jesus não machucaria.
Já ouvi alguns pregadores usarem em
suas mensagens um sofisma que, de tanto ser repetido, acabou virando uma
pseudoverdade teológica, ou, para usar um vocábulo mais aceito pela sociedade,
apenas mais um clichê gospel. Dizem: “Deus muda o caráter mas não o
temperamento“. Já ouviu isso? Só que essa afirmação simplesmente não é
verdade. Basta olhar as virtudes contidas no fruto do Espírito exposto em
Gálatas 5.22,23a: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”.
Pare para pensar. Isso é o fruto
que o Espírito Santo gera no salvo. Agora: se essa frase fosse verdade, todas
essas virtudes teriam a ver apenas com caráter. Mas muitas falam de mudança de
temperamento. Observe: Amor: caráter e temperamento. Alegria: temperamento.
Paz: caráter e temperamento. Longanimidade (ou paciência, em outras
traduções): temperamento. Benignidade (ou amabilidade, em outras traduções):
caráter e temperamento. Bondade: caráter. Fidelidade (ou fé, em outras
traduções): caráter. Mansidão: temperamento. Domínio próprio: caráter e
temperamento. Ou seja, a atuação do Espírito de Deus na vida do que é salvo se
dá no nível da transformação do caráter mas também no do temperamento. É uma
transformação do todo e não de 2/3 do indivíduo que foi chamado da morte para a
vida. Ninguém é regenerado por Cristo parcialmente: ou nasce todo ou não nasce.
Naturalmente, existe o processo de
santificação, uma dinâmica cotidiana. Só que santificação representa melhorar a
cada dia. Subir um degrau da escada, depois outro, depois outro. Não é
estagnação. Não é retrocesso. É avanço. O cristão que fala “eu sou assim mesmo, me
aguentem” não está em processo de santificação, está parado no sinal verde com
o freio de mão puxado. E não adianta buzinar, pois ele não sai do lugar. E
ainda berra pela janela: “Eu não vou andar, pois sou autêntico!”.
Assim, justificar, como disse o
irmão do blog, atitudes desagradáveis ou ofensivas com o argumento de que é
“seu jeito de ser” não é nada bíblico. O verdadeiro salvo é quem se arrependeu
de todos os seus males, inclusive a sua forma de ser, se ela é
socialmente desagradável. Não entendo, por exemplo, alguém que viva falando de
Jesus mas cujo temperamento seja constantemente irascível. Todos temos arroubos
de raiva, mas quando o seu “jeito de ser” é naturalmente agressivo, para mim
isso não demonstra autenticidade, mas falta de intimidade com o Jesus que
prega.
Não, não é bíblico ou cristão dizer “sou
sincero” e sair desrespeitando os irmãos. Não, não é bíblico ou cristão dizer
“sou autêntico” e sair agredindo verbalmente as pessoas. Não, não é bíblico ou
cristão dizer “esse é o meu jeito, se não gostar azar o seu”, pois isso
contraria frontalmente o “amar o próximo como a si mesmo”. Dizer essas coisas
só faz de você “uma pessoa desagradável”. Não há mérito algum nisso. Não é
bonito. Não creio que agrade Deus. Não demonstra fruto do Espírito.
Não cabe a mim dizer como você tem
que ser, isso é entre você e Deus. Mas se posso fazer uma recomendação, é: não
seja como você é. Não orgulhe-se de ser quem você é. Se eu
fosse ser quem eu sou iria querer muita distância de mim mesma.
Mas Cristo vive em você? Então dê de beber ao teu inimigo sedento, pague um
almoço ao inimigo faminto. Ame quem te fez mal. Contrarie sua natureza e seus
impulsos. Alimente a natureza de Cristo em si. Isso sim é ser cristão.
Essa é a proposta do Evangelho para
mim e para você.
Nenhum comentário:
Postar um comentário